Projeto 1: Desenvolvimento e Teste de um Aeropêndulo
Introdução
O objetivo deste trabalho de projeto é desenvolver, modelar e testar um Aeropêndulo. Este sistema é amplamente utilizado para o estudo da dinâmica de sistemas de controlo não lineares.
O projeto permitirá que os alunos adquiram competências em:
Modelação de sistemas físicos;
Simulação de comportamento dinâmico;
Implementação de estratégias de controlo;
Integração de hardware e software;
Realização de testes experimentais;
Validação experimental e comparação com simulação.
Trabalho a Desenvolver
O desenvolvimento do projeto deverá incluir:
Estudo dos componentes de hardware (motores, sensores, driver e estrutura mecânica);
Rever equações do movimento do aeropêndulo, simular a resposta
Implementação de comunicação, aquisição e processamento de dados baseado num sistema arduino;
Implementação de um sistema de controlo em malha fechada;
Realização de testes experimentais no protótipo físico
Observar resposta a degraus de referência.
Analisar estabilidade e tempo de resposta.
Validação do sistema através da comparação gráfica quantitativa entre simulação e resultados experimentais.
Relatório Final e apresentação, documentar o desenvolvimento, o sistema implementado, resultados e comparação entre teoria e prática.
Descrição do Sistema
O Aeropêndulo consiste num braço rígido fixo a uma base rotacional, com uma hélice instalada numa das extremidades. A rotação da hélice gera uma força propulsora que influencia o movimento do pêndulo.
O objetivo principal é controlar a posição angular do pêndulo, atingindo um equilíbrio numa posição desejada.
O sistema é inerentemente instável, tornando a sua estabilização um desafio relevante para estudo e implementação prática.
Componentes principais do sistema
Pêndulo: Braço rotacional fixado a um eixo, com uma hélice na extremidade.
Hélice: Gera a força propulsora que controla o movimento do pêndulo.
Sensor de Ângulo: Mede continuamente o ângulo de inclinação do pêndulo.
Controlador: Algoritmo responsável por ajustar a velocidade da hélice de forma a estabilizar o pêndulo.
Motor e Hélice
Requisitos Técnicos
A seleção do motor e da hélice deve obedecer aos seguintes critérios:
Peso reduzido: para minimizar o momento de inércia do pêndulo.
Tamanho compacto: para facilitar a montagem e integração no braço do aeropêndulo.
Preço acessível: dado tratar-se de um protótipo experimental de baixo custo.
Elevada força de impulsão: suficiente para contrariar a gravidade e permitir o controlo ativo do pêndulo.
Compatibilidade elétrica: deve poder ser alimentado por uma fonte de tensão de laboratório e ser controlado por placas driver acessíveis e comuns no mercado académico (ex.: L298N, MOSFET drivers simples).
Disponibilidade comercial: motor de fácil aquisição, com substituição rápida em caso de falha.
Seleção do Motor
Atendendo a estes requisitos, foi escolhido um motor coreless de drone (Micro FPV Quadcopter), com hélice de pequenas dimensões.
Este tipo de motor apresenta baixo peso, rotação muito elevada, resposta rápida e boa disponibilidade no mercado a preços acessíveis.
Características Técnicas do Motor + Hélice
Tipo: Coreless DC Motor (Micro FPV Quadcopter)
Dimensões: 7x16 mm
Peso: ~2 g (sem hélice)
Hélice: 4x55 mm
Tensão nominal: 3.7 V (até 4.2 V)
Velocidade: ~50 000 RPM
Corrente sem carga: 0.08 – 0.1 A
Corrente em bloqueio: 1.8 – 2.0 A
Saída do eixo: 0.8 mm
Comprimento do eixo: 7 mm
Comprimento dos cabos: ~46 mm
Materiais: liga metálica leve
Ensaios de caraterização de Motor e Hélice
Antes da integração no sistema completo do aeropêndulo, é preciso a realização de ensaios individuais ao motor e à hélice. Estes ensaios permitem caracterizar o comportamento elétrico e mecânico do atuador e obter curvas de calibração a usar no modelo e no controlo.
Ensaio de Corrente em Vazio e com carga
Ligar o motor sem hélice a uma fonte de tensão regulada-
Medir a corrente consumida em vazio (sem carga).
Verificar se os valores estão próximos da especificação
Durante tempos curtos (!), medir a corrente consumida com carga, e a tensão associada, e verifica se os valores estão próximos da especificação
Ensaio de Consumo com Hélice
Repetir a medição de corrente com a hélice montada.
Avaliar o aumento de consumo devido à carga aerodinâmica.
Confirmar que o driver e a fonte conseguem fornecer a corrente necessária.
Ensaio de Aquecimento
Fazer funcionar o motor de forma contínua em diferentes regimes.
Verificar a temperatura do motor e do driver após alguns minutos.
Avaliar limites operacionais para evitar sobreaquecimento.
Ensaio de Resposta ao PWM
Controlar o motor via sinal PWM através da placa driver.
Repetir os ensaios anteriores para diferentes ciclos de trabalho (duty cycle).
Curvas de Calibração
Cada curva deve ser obtida de duas formas:
Manual: controlo manual da tensão usando fontes DC de laboratório.
Automatizada: controlo em modo AC através de uma rampa de sinal PWM gerada por um gerador de funções do laboratório, ou o Arduino, a comandar a placa driver .
Curva 1 — Velocidade de Rotação
Objetivo: validar e calibrar a velocidade de rotação do motor em função do comando aplicado.
Medição: sensor ótico ou magnético (encoder).
Resultado: curva de transferência que relaciona a tensão (ou o duty cycle do PWM) com a velocidade angular do motor.
Curva 2 — Força de Impulsão (opcional)
Objetivo: medir a força de impulsão produzida pelo motor e hélice.
Medição: motor fixado a uma estrutura rígida apoiada numa balança digital, observando a redução (ou aumento) do valor aprente de massa em função da força produzida.
Resultado: curva de transferência que relaciona a tensão (ou o duty cycle do PWM) com a força de impulsão gerada.
Placa de Controlo do Motor (Driver)
Requisitos Técnicos
A placa de controlo (driver) deve cumprir os seguintes requisitos para integração no aeropêndulo:
Compatibilidade elétrica com os motores DC escolhidos (tensão de 3–5 V, correntes até 2 A).
Capacidade de comando via PWM, permitindo variar a velocidade de rotação do motor.
Disponibilidade e preço acessível, sendo facilmente encontrada em kits educativos.
Facilidade de utilização em laboratório, com pinos claramente identificados e compatíveis com microcontroladores como o Arduino.
Robustez, capaz de suportar picos de corrente sem falhas.
Seleção
Foi selecionado o módulo L298N (H-Bridge), amplamente usado no ensino e em prototipagem de sistemas de controlo de motores.
Permite comandar dois motores DC independentes ou um motor passo-a-passo bipolar, o que garante flexibilidade para projetos futuros.
Características Técnicas
Controlador: L298N (ponte H dupla)
Número de motores suportados: 2 DC (ou 1 passo-a-passo)
Corrente contínua máxima: 1.2 A por motor
Corrente de pico: 3 A
Tensão de alimentação do motor: até 15 V
Tensão de alimentação lógica: 2.7 – 5.5 V
Dimensões: 43 x 43 x 27 mm
Ligações e Pinos Principais
O módulo L298N possui pinos de controlo digital e pinos de potência:
Alimentação
VCC
(5 V) – alimentação do circuito lógicoGND
– massa comum (obrigatório ligar à massa do Arduino).+Vmotor
– alimentação do motor
Controlo do Motor A
ENA
– pino de ativação (‘enable’) do motor A (se ligado a PWM, controla a velocidade).IN1
,IN2
– definem o sentido de rotação.OUT1
,OUT2
– saídas para o motor.
Controlo do Motor B (disponível para expansão).
Instruções de Uso
Alimentação inicial
Ligar
VCC
(5 V) e+Vmotor
(3–5 V) a uma fonte de laboratório.Confirmar o correto estabelecimento da massa comum.
Teste de ativação
Colocar
ENA
em nível lógico alto (5 V).Aplicar sinais digitais a
IN1
eIN2
:IN1=HIGH
,IN2=LOW
→ motor gira num sentido.IN1=LOW
,IN2=HIGH
→ motor gira no sentido contrário.IN1=LOW
,IN2=LOW
ouIN1=HIGH
,IN2=HIGH
→ motor parado.
Teste com PWM
Ligar
ENA
a um pino PWM do Arduino.Enviar uma rampa de valores (duty cycle crescente).
Observar a variação da velocidade de rotação do motor.
Verificação antes dos ensaios
Testar o driver sem motor ligado (para garantir que o sinal comuta corretamente, observando a saída com multímetro ou osciloscópio).
Confirmar se não há aquecimento excessivo na placa em vazio.
Só depois ligar o motor com hélice e realizar os ensaios experimentais.
Esta sequência de testes garante que a placa de controlo está a funcionar corretamente antes de ser usada nos ensaios de caracterização do motor e da hélice, e posteriormente na integração com o sistema completo do aeropêndulo.
Sensor (Encoder para Medição de Ângulo)
A escolha do sensor deve considerar:
Requisitos técnicos
Capacidade de medir o ângulo de rotação com resolução adequada (ideal ≥ 10 bits ou centenas de impulsos/rotação).
Frequência de amostragem suficiente para acompanhar a dinâmica do aeropêndulo.
Compatibilidade elétrica com microcontroladores comuns (Arduino, etc.).
Requisitos não técnicos
Baixo atrito: não deve introduzir torque adicional significativo no eixo do pêndulo.
Facilidade de montagem: instalação simples e tolerante a pequenas imprecisões.
Robustez e durabilidade: adequado a uso repetido em ambiente laboratorial.
Custo e disponibilidade: componentes acessíveis e de fácil substituição.
Opções de Encoders
1. Encoder Mecânico Analógico (Potenciómetro Rotativo)
Descrição: Dispositivo resistivo que fornece uma tensão analógica proporcional ao ângulo de rotação.
Sinais e pinos:
Vcc
→ alimentação (3.3–5 V).GND
→ massa comum.OUT
→ tensão analógica proporcional ao ângulo.
Uso: ligar
OUT
a uma entrada analógica (ADC) do microcontrolador.Teste antes da integração: rodar manualmente o eixo e verificar se a tensão varia linearmente entre 0 V e Vcc.
Limitações: introduz atrito no eixo, desgaste com o tempo, resolução limitada (~8–10 bits).
2. Encoder Mecânico Incremental (Saída Digital)
Descrição: Botão rotativo com contactos internos que produzem impulsos digitais a cada passo angular. Pode ser de um canal (incremental simples) ou de dois canais (quadratura).
Sinais e pinos típicos:
Vcc
→ alimentação (opcional, nem todos precisam).GND
→ massa.OUT A
→ impulsos digitais (incremental simples).OUT A
eOUT B
→ impulsos defasados (quadratura).SW
→ botão integrado (opcional).
Uso:
Incremental simples: contar impulsos para medir deslocamento relativo (não fornece ângulo absoluto).
Quadratura: permite detetar o sentido de rotação ao comparar a ordem dos impulsos em
A
eB
.
Teste antes da integração: rodar manualmente e observar os impulsos no Arduino (via monitor série ou LED).
Limitações: não fornece ângulo absoluto, apenas posição relativa; exige inicialização num ponto de referência.
3. Encoder Ótico (Optical Slot Sensor)
- Descrição:Baseado num LED infravermelho e num fototransístor montados frente a frente, separados por uma ranhura (“slot”).Um disco perfurado ou uma pá interrompe o feixe de luz, gerando impulsos digitais sempre que o feixe é bloqueado/libertado.É usado como encoder incremental simples (não fornece posição absoluta nem sentido de rotação).
Sinais e pinos típicos:
Vcc
→ alimentação do LED infravermelho (poderá necessitar uma resistência em série de limitação de corrente, por ex. 150–330 Ω).GND
→ massa comum.OUT
→ saída digital do fototransístor (alto/baixo consoante a passagem do feixe).
- Uso:Ligar
OUT
a uma entrada digital do microcontrolador.Contar impulsos ao longo do tempo para obter velocidade de rotação ou deslocamento angular relativo.Não fornece ângulo absoluto nem direção de rotação (apenas número de interrupções). - Teste antes da integração:Mover manualmente o disco ou pá que atravessa o sensor.Verificar a geração de impulsos digitais no Arduino (via LED indicador ou monitor série).
- Vantagens:Elevada resolução possível (dependente do disco ou pá usados).Simples e barato.
Limitações:
Requer alinhamento preciso entre disco/pá e sensor.
Não mede direção de rotação (apenas incrementos).
4. Encoder Magnético (Sensor de Campo)
Descrição: Um íman diametralmente magnetizado no eixo é detetado por um sensor magnético (Hall ou magnetorresistivo). Fornece saída analógica (tensão ∝ ângulo), digital incremental ou dados digitais via I²C.
Sinais e pinos típicos (variam consoante modelo):
Vcc
,GND
.SDA
,SCL
(I²C).ou
OUT PWM
, ouOUT analógico
.
Uso: medir diretamente ângulo absoluto sem atrito e sem linha de vista.
Teste: ler valores via I²C/PWM enquanto roda manualmente o eixo.
Vantagens: não introduz atrito, montagem simples, robusto a poeira.
Limitações: resolução depende do chip (10–12 bits típicos), exige alinhamento básico íman-sensor.
Seleção sensor: encoder magnético – AS5600


Especificações:
AS5600
– Codificador Magnético de Alta PrecisãoAlimentação: 3.3 V (obrigatório)
Resolução: 12 bits
Modos de saída: I²C, PWM, Tensão analógica
Biblioteca Arduino:
AS5600
(disponível via Arduino IDE)Repositório: github.com/RobTillaart/AS5600
Considerações de Teste
Antes da integração no aeropêndulo, recomenda-se:
Verificação elétrica: confirmar tensões de alimentação e ligações ao microcontrolador.
Testes individuais: rodar manualmente o eixo e registar leituras (tensão, impulsos, ou dados digitais).
Validação da resolução: confirmar que o sensor distingue pequenas variações de ângulo.
Teste de repetibilidade: rodar o pêndulo em várias voltas e verificar consistência da medição.
Integração do Sistema
Após a validação individual de cada componente, deverá ser realizada a integração:
Montagem mecânica: fixar o motor, hélice e sensor ao braço do pêndulo.
Integração elétrica: ligar motor ao driver e este ao microcontrolador; sensor ligado ao mesmo microcontrolador.
Aquisição de dados: programar a leitura contínua do ângulo via I²C.
Ação de controlo: gerar sinal PWM para o motor em função do erro (posição desejada – posição medida).
Estratégias de controlo: iniciar com controlo proporcional (P), depois evoluir para PI ou PID.